sábado, 13 de junho de 2015

Novas descobertas e observações discordantes

Na edição de 7 de julho de 1995 da revista Science, Larry Hedges e Amy Nowell, pesquisadores da Universidade de Chicago, observaram que as deficiências femininas em matemática eram pequenas, mas não insignificantes. Eles perceberam que essas deficiências poderiam afetar adversamente o número de mulheres que “se sobressaem em cargos técnicos e científicos”. Quanto às habilidades de escrita dos meninos, eles escreveram que “A grande diferença entre os sexos na escrita... é alarmante. Tais dados insinuam que os homens, em média, estão em uma profunda desvantagem na performance dessa habilidade básica”. Hedges e Nowell continuam com o aviso, “Os números normalmente maiores de homens com os piores resultados na leitura e na escrita também possuem implicações políticas. Parece provável que os indivíduos com tais habilidades tão mal desenvolvidas terão dificuldade em conseguir um emprego em uma economia cada vez mais regida pela informação. Então, alguma intervenção pode ser necessária para permiti-los a participar da sociedade construtivamente.”

Hedges e Nowell descreveram um sério problema de dimensão nacional, mas devido ao foco ter sido direcionado exclusivamente às deficiências femininas, esse não é um problema que os americanos conhecem muito sobre ou mesmo suspeitam que exista. É muito difícil olhar para os dados escolares de adolescentes ou os mais recentes dados sobre os estudantes universitários sem chegar à conclusão de que as meninas e as mulheres jovens estão prosperando, enquanto suas contrapartes masculinas estão definhando.

Em 1995, talvez em reação às críticas – de um crescente número de pesquisadores que não se deixaram ser enganados – a AAUW encomendou um estudo mais sério sobre o desempenho acadêmico dos sexos. Esse estudo, denominado The Influence of School Climate on Gender Differences in the Achievement and Engagement of Young Adolescents, feito pela professora da Universidade de Michigan Valerie E. Lee e seus associados, foi publicado sem a costumeira fanfarra com que a AAUW anuncia suas pesquisas, e isso não surpreende. O estudo de Lee sugere intensamente que os relatórios anteriores sobre uma trágica desmoralização que as jovens americanas vêm sofrendo têm sido muito exagerados.

Lee e seus parceiros de pesquisa analisaram dados sobre o desempenho e comprometimento escolar de mais de 9.000 meninos e meninas do 8o ano e descobriram que as diferenças entre eles poderiam ser classificadas de “pequenas a moderadas.” Além do mais, o padrão das diferenças de gênero não possui uma “direção consistente”. Em algumas áreas, as meninas se sobressaem. Em outras, os meninos são melhores. O estudo também mostrou que as meninas são mais comprometidas academicamente que os meninos: elas estavam melhor preparadas para assistir às aulas, possuíam melhor histórico de presenças, e evidenciavam um comportamento acadêmico mais positivo, em sua totalidade.

As conclusões sensatas de Lee na pesquisa patrocinada pela AAUW se basearam nos dados do Departamento de Educação dos Estados Unidos e eram totalmente coerentes com as descobertas de Hedges e Nowell. Mas eles estavam em desacordo com o distorcido quadro que a AAUW tinha vendido anteriormente com sucesso para o público americano e para o Congresso. Lee concluiu que “A opinião pública acerca das questões dos gêneros nas escolas precisam sofrer algumas mudanças... A desigualdade pode (e faz) a diferença em ambas as direções.” No tanto quanto me foi possível verificar, o estudo objetivo e competente de Valerie Lee não foi citado em nenhum jornal.

A AAUW não gastou 150.000 dólares divulgando a pesquisa de Lee, e nem mesmo suavizou sua própria retórica sectária. Pelo contrário, as visões discordantes provocaram uma grande ira na associação, que se tornou abusiva. Na primavera de 1997, o boletim da AAUW, o AAUW Outlook atacou os “revisionistas do preconceito de gênero” que, “como John Leo, Christina Hoff Sommers e outros colunistas locais”, questionaram o mito da menininha frágil: “Todos nós já ouvimos a histórias revisionistas. Sempre haverá aquelas pessoas que insistirão que o Holocausto não aconteceu... Os revisionistas frequentemente distorcem os fatos tão profundamente que eles assumem a história de uma forma que ela perde toda a sua semelhança com a realidade.”

No verão de 1997, a AAUW seguiu com os ataques aos seus críticos com uma “Conferência de Lideranças” que durou 4 dias, na qual a assessoria de comunicação da associação treinaram 30 professores e outros “defensores da igualdade” com estratégias de como lidar com os “revisionistas na mídia e em outros lugares. Eu fui a uma das sessões na sede da AAUW, em Whashington D.C. (Eu não era uma pessoa bem-vinda ali e, em um dado momento, pediram educadamente para que eu me retirasse). Fora da sala onde ocorria a conferência, havia mesas cheias de lembrancinhas sobre meninas em cirse. Os professores poderiam comprar “ursinhos de pelúcia da igualdade”, canecas de café, e camisas com o slogan “Quando nós prejudicamos as meninas, prejudicamos a América”. Também havia broches com os dizeres “Eu sou uma estrela”, voltados para as meninas com baixa auto-estima.

A assessoria da AAUW preparou os professores para lidar com questões sobre os meninos. Em um seminário de treinamento especial denominado “Porque focar nas Garotas?”, os professores ensaiaram suas respostas aos questionamentos sobre os meninos e a equipe da AAUW criticou a performance. Um dos “treinadores da igualdade” aconselhou aos professores para que eles usem “as palavras e frases chaves da AAUW” tanto mais quanto possível – especialmente a preferida deles, “meninas prejudicadas”. Os treinadores pediram para que os professores praticassem usando uma “linguagem confiante”, com expressões como “a pesquisa mostra que.”

Embora a sede da AAUW onde essa conferência ocorreu estivesse no epicentro do movimento da crise feminina, alguns dos professores que participaram estavam temerários de defender tais ideias na frente de meninos. Uma jovem professora de Baltimore relatou que em sua escola os garotos eram tão vulneráveis quanto as garotas - “se não mais”. E, em uma discussão sobre como defender do caráter exclusivamente feminino da prática de se levar as filhas para o serviço no dia do trabalho, 4 professores protestaram, dizendo que os meninos também deviam ser incluídos. Em ambos os casos, os especialistas em igualdade da AAUW suavemente trouxeram o foco da discussão de volta para as meninas.


Outras observações discordantes

As feministas amam se reunir em grupos para contar histórias sobre como as garotas estão sendo prejudicadas. Em novembro de 1997, a Rede de Educação Pública (PEN), um conselho de organizações que ajudam as escolas públicas, patrocinou uma conferência denominada “Gênero, Raça e Desempenho Estudantil”. Os principais nomes que participaram da conferência foram Carol Gilligan e Cornel West, um professor de estudos afro-americanos e filosofia da religião na Universidade de Harvard. Gilligan falou sobre como as meninas e mulheres “perderam suas vozes”, como elas “foram inferiorizadas” na adolescência, e como professoras são “nulas”, tendo sido “emudecidas” pela “estrutura patriarcal” que domina nossas escolas. Cornel West falou sobre a necessidade que ele teve de superar seus próprios sentimentos de “supremacia masculina.”

Mesmo no mais politicamente correto dos encontros, as sérias deficiências dos meninos vieram à tona. No primeiro dia de conferências, durante uma sessão especial de três horas, a equipe da PEN divulgou o resultado de uma nova pesquisa, entitulada The American Teacher 1997: Examining Gender Issues in Public Schools. A pesquisa foi financiada pela Companhia de Metropolitana de Seguros de Vida (MetLife), como parte de sua série sobre os professores americanos, e foi conduzida pela Louis Harris & Associates.

Durante um período de três meses em 1997, 1.306 estudantes e 1.305 professores das turmas do sétimo ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio responderam várias perguntas sobre igualdade de gênero. O estudo da MetLife não foi encomendado por nenhuma organização feminista, logo ele não tinha uma cartilha doutrinária a seguir. Portanto, o que se descobriu contradizia em grande parte as “descobertas” da AAUW, dos Sadkers e do Wellesley Center. Foi dito, educadamente, que: “Ao contrário da visão, muito comum, de que os meninos possuem vantagem sobre as meninas, elas parecem estar à frente deles em termos de planos futuros, expectativas por parte dos professores, experiências escolares e interações em sala de aula.”

Aqui estão algumas outras conclusões do estudo da MetLife:

* Garotas são mais suscetíveis do que os garotos de visualizar a si mesmas como futuras universitárias.

* Elas também são mais suscetíveis do que eles de querer possuir uma boa formação.

* Mais meninos do que meninas (31% contra 19%) sentem que os professores não ouvem o que eles tem a dizer.

O relatório da MetLife advertiu a um auditório lotado de admiradores de Carol Gilligan que os garotos americanos necessitam de mais atenção do que as garotas. Os participantes estavam ouvindo – muitos pela primeira vez – que o discurso convencional dos estudos que mostram “meninas perdendo sua auto-confiança... e como resultado tendo piores desempenhos” na escola era uma simples mentira. Essa deveria ter sido uma grande notícia para uma mídia completamente tomada pelas descobertas acerca do trágico destino das garotas americanas. Mas em qualquer assunto onde as garotas estão envolvidas, boas notícias não são notícias.

Ocorreram outras observações discordantes expostas na conferência. Durante uma roda de debates sobre questões de gênero e raça nas escolas, um palestrante, que leciona em uma rigorosa escola pública de ensino médio de Washinton D.C., disse que lá é tão raro um menino ir bem nos estudos que “é um grande feito quando um garoto conseguia ingressar numa sociedade de honra ou ganhar algum prêmio”. Ninguém se atreveu a comentar sobre isso.

Em outra sessão, com o nome de “Como as experiências escolares de meninos e meninas diferem?” Nancy Leffert, uma psicóloga infantil do Instituto de Pesquisa de Minneapolis, demonstrou o resultado de uma grande pesquisa que ela e seus colegas fizeram recentemente com mais de 99.000 estudantes do 6o ano do ensino fundamental ao 3o ano do ensino médio. Os jovens foram questionados sobre seus “ativos de desenvolvimento”. O Instituto de Pesquisa identificou 40 ativos essenciais (“pedras fundamentais para o desenvolvimento sadio”). Metade deles eram externos - por exemplo, uma família presente, adultos servindo de modelos comportamentais – e metade eram internos – motivação para conquistar seus objetivos, senso de propósito na vida, confiança para manter relações interpessoais. Leffert explicou aos expectadores da palestra, de uma forma laudatória, que as meninas estão à frente dos meninos em 34 dos 40 ativos! Em quase todos os parâmetros mais importantes de bem-estar, elas estão melhores que eles: se sentem mais próximas de suas famílias, tem maiores aspirações e laços mais fortes com a escola – possuem até mesmo uma maior assertividade. Leffert concluiu sua palestra dizendo que antigamente ela se referia às meninas como frágeis e vulneráveis, “mas se você der uma olhada [na nossa pesquisa], ela mostra que as meninas possuem ativos muito poderosos.”

O estudo original da AAUW, tão eficazmente promovido, foi baseado em um levantamento de dados de 3.000 crianças. O estudo do Instituto de Pesquisa que Leffert sintetizou em sua palestra era incomparavelmente mais confiável – foi baseado em uma amostra contendo quase 100.000 estudantes. Esse grandioso estudo definitivamente atestou que a premissa da menina prejudicada – na qual a conferência da PEN se apoiava – era falsa.

Ainda assim, ninguém chamou a atenção dos conferencistas para esse fato. O suposto destino trágico das meninas em nossa “sociedade sexista” continuou sendo o pensamento dominante. Leslie Wolfe, presidente do Centro para Estudos Políticos Femininos em Washington D.C., denunciou o “currículo sexista oculto” das escolas. “Nós devemos ensinar os meninos que a supremacia masculina é inaceitável”, disse ela. Outros palestrantes foram adiante, defendendo ideias como o “empoderamento feminino” e a “demonstração de estratégias na sala de aula para melhorar o desempenho e comprometimento das meninas”. Além disso, David Sadker participou de um debate no qual ele descreveu “o oceano do preconceito de gênero [contra as meninas, nunca o contrário] que existe à nossa volta.”

A visão “oficial”, descompromissadamente articulada pelo então presidente da AAUW Jackie DeFazio em 1994, tem de ser constantemente questionada pelas escolas e universidades: “Meninas continuam recebendo uma educação desigual em nossas escolas. Não importa em quais aspectos os jovens são analisados - pontuações de testes, desempenho em sala e averiguação dos métodos de ensino – estudo atrás de estudo, nos fica mais claro que as meninas não estão alcançando seu potencial como os meninos o fazem.” (essa última parte é muito enfatizada).

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