quinta-feira, 28 de maio de 2015

A guerra contra os meninos

Como o feminismo desenfreado está prejudicando os nossos homens jovens

Por Christina Hoff Sommers

Onde os meninos estão?
O mito da menina frágil

Carol Gilligan, a mãe do movimento
da crise adolescente
Em 1990, Carol Gilligan anunciou ao mundo que as adolescentes americanas estavam em crise. Nas palavras dela, “Como o rio da vida de uma garota flui em direção ao mar da cultura ocidental, ela corre o risco de se afogar ou desaparecer”. Gilligan ofereceu pouco, em termos de evidências, para sustentar essa descoberta alarmante. De fato, é difícil imaginar que tipo de pesquisa empírica poderia fundamentar uma reivindicação tão grande. No entanto, Gilligan rapidamente atraiu aliados poderosos. Em um curtíssimo período de tempo, o supostamente frágil e desmoralizado estado das adolescentes americanas alcançou o status de emergência nacional.

Eu sujeitarei a pesquisa de Gilligan acerca das meninas e dos meninos a uma extensa análise nos próximos capítulos. Ela é a padroeira do movimento acerca da crise feminina. Gilligan, mais do que ninguém, é citada como a autoridade científica e acadêmica que confere respeitabilidade às reivindicações de que as garotas americanas estão sendo psicologicamente empobrecidas, socialmente “emudecidas” e academicamente “prejudicadas”.

Escritores famosos, movidos pela descoberta de Gilligan, começaram a ver evidências da crise feminina em todo lugar. A antiga colunista do New York Times Anna Quindlen contou como a pesquisa de Gilligan lançou uma ominosa sombra na festa de comemoração do segundo aniversário de sua filha: “Minha filha está pronta para mergulhar no mundo, como se a vida fosse uma sopa de galinha, e ela, um delicioso macarrão. O trabalho da Professora de Harvard Carol Gilligan sugeriu que algum tempo depois dos 11 anos isso mudará, e que até mesmo essa alegre garotinha irá regredir e se retrair.”

Logo, começou a surgir uma série de livros famosos, com títulos como Failing at Fairness: How America's Schools Cheat Girls [Falhando em Equidade: Como as escolas americanas iludem as meninas]; Reviving Ophelia: Saving the Selves of Adolescent Girls [Revivendo Ofélia: Salvando os egos das adolescentes]; Schoolgirls: Self-Esteem and the Confidence [Colegiais: Autoestima e Confiança]. A escritora do Gap. Time Elizabeth Gleick falou sobre a nova tendência da literatura vitimológica: “Dezenas de adolescentes perturbadas adentram por essas páginas: um grupo composto por projetos de Charlottes, Whitneys and Danielles que foram estupradas, têm bulimia, possuem piercings pelo corpo ou cabeças raspadas; meninas que estão lidando com famílias rigorosamente religiosas ou estão abatidas pelo amargo divórcio de seus pais.”

O país das adolescentes foi tanto exaltado quanto lamentado. A novelista Carolyn See escreveu no The Washington Post: “Os mais heroicos, destemidos, graciosos e atormentados seres humanos deste país devem ser as garotas com a idade de 12 a 15 anos.” Nessa mesma linha, Myra e David Sadker, em Failing at Fairness, preveem o destino de uma radiante menininha de seis anos no alto do escorrega de um parquinho: “Lá estava ela, sustentada por suas firmes pernas, com sua cabeça jogada para trás, e seus braços abertos. Como a dona do parquinho, ela estava no topo do mundo.” Mas tudo mudaria em breve: “Se a câmera tivesse fotografado a menina... aos 12 anos ao invés dos 6... ela estaria olhando para o chão, e não para o céu; sua autoestima estaria em uma acelerada espiral descendente.”

A imagem de meninas confusas e desamparadas lutando para sobreviver seria reproduzida de novo e de novo, com detalhes adicionais e crescente insistência. No livro de Mary Pipher Reviving Ophelia, de longe o mais bem-sucedido dos livros sobre a crise feminina, as adolescentes se submetem a uma impetuosa morte: “Algo terrível acontece às meninas no início da adolescência. Assim como aviões e navios somem misteriosamente no Triângulo das Bermudas, o mesmo acontece com o ego das meninas, que se deterioram em massa. Elas colidem e queimam.”

A descrição das adolescentes americanas como silenciosas, atormentadas, emudecidas e pessoalmente desvalorizadas é de fato desanimadora. Porém, surpreendentemente, existem poucas evidências para sustentá-la. Se as garotas americanas estão passando pelo tipo de crise que Gilligan e seus acólitos estão dizendo, ela passou desapercebida pela psiquiatria convencional. Não há, por exemplo, menções a essa epidemia no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), os arquivos de referência oficiais da Associação Americana de Psiquiatria. O mal que chega mais próximo de corresponder aos sintomas mencionados pelos escritores apologistas da crise é um distúrbio do humor denominado distimia. A distimia é caracterizada por uma baixa autoestima, sentimentos de inadequação, depressão, dificuldade de tomar decisões e isolamento social. De acordo com o DSM-IV, o mal ocorre em igual proporção entre as crianças de ambos os sexos, e mesmo sendo mais comum em mulheres do que em homens entre os adultos, ainda assim é relativamente raro. Não mais que 3 ou 4% da população sofre dessa desordem.

Os acadêmicos que seguem os protocolos convencionais de pesquisa das ciências sociais descrevem as adolescentes em termos muito mais otimistas. A Dr. Anne Petersen, uma antiga professora de desenvolvimento adolescente e pediatria na Universidade de Minnesota e atualmente vice-presidente sênior de programas da Fundação W. K. Kellogg, relatou o consenso dos pesquisadores que trabalham com psicologia adolescente: “Já se sabe que a maioria dos adolescentes de ambos os gêneros passam por esse período do desenvolvimento sem nenhum grande problema psicológico ou emocional, desenvolvem um positivo senso de identidade pessoal, e se viram para forjar relacionamentos adaptativos ao mesmo tempo que mantêm relacionamentos próximos com suas famílias.” Daniel Offer, professor de psiquiatria da Northwestern University, concorda com Petersen. Ele se refere a uma “nova geração de estudos” que considera a maior parte dos adolescentes (80%) normal e bem ajustada.

Ao mesmo tempo que Gilligan estava proclamando uma crise feminina, um estudo da Universidade de Michigan em conjunto com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos perguntou a uma amostra cientificamente selecionada de três mil de alunos do último ano do ensino médio a seguinte pergunta: “Levando tudo em conta, como você diria que as coisas estão hoje - você diria que atualmente está muito feliz, consideravelmente feliz, ou não tão feliz?” Aproximadamente 86% das meninas e 88% dos meninos responderam que eles eram “consideravelmente felizes” ou “muito felizes”. Se as meninas que foram entrevistadas estavam “presas em uma acelerada espiral descendente”, elas não estavam cientes disso.

A psicóloga Mary Pipher descreve a sociedade americana como uma “cultura envenenada e destruidora para as garotas”. Quais são as suas provas? Em Reviving Ophelia, ela diz aos leitores que sua clínica está cheia de meninas “que tinham tentado se matar”, e cita estatísticas sugerindo que as condições das jovens americanas estão piorando: “Os Centros de Controle de Doenças em Atlanta relatam que a taxa de suicídio entre crianças de 10 a 14 anos aumentou 75% entre 1979 e 1988. Algo terrível está acontecendo às adolescentes nos EUA.”

No entanto, os números de Pipher são enganosos. Mesmo que alguma coisa “terrível” esteja ocorrendo com as crianças americanas em relação ao suicídio, esse problema também afeta os meninos. Um olhar atento à distribuição por sexos das estatísticas citadas por Pipher revela que para os garotos de idades entre 10 e 14 anos, a taxa de suicídio cresceu em 71% entre 1979 e 1988; para as garotas, o aumento foi de 27%. Além disso, o número efetivo de crianças de 10 a 14 anos que tiram a própria vida é pequeno. Um imponente total de 48 meninas nessa faixa etária cometeram suicídio em 1979, aumentando para 61 em 1988. Entre os meninos, o número cresceu de 103 para 176. Todas essas mortes são trágicas, mas em uma população de 9 milhões de meninas que estão nessa faixa etária, um aumento de 13 mortes no número total de suicídios dificilmente evidencia a existência de uma cultura destruidora de garotas.

Ao contrário da história contada por Gilligan e seus seguidores, no início dos anos 90 as meninas americanas estavam florescendo de uma forma sem precedentes. De fato, algumas delas – dentre aquelas que se encontravam nas clínicas de psicologia – sentiram que estavam mergulhando no mar da cultura ocidental. Porém, a imensa maioria das meninas estavam ocupadas com coisas mais construtivas, tomando a frente dos meninos no primeiro e no segundo grau, candidatando-se às universidades em números recordes, participando das aulas mais desafiadoras, entrando em equipes esportivas, e geralmente experimentando mais liberdade e oportunidades que quaisquer outras mulheres jovens na história da humanidade.


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Continua em:







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